Pós-graduações IMED 2013

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A unidade do cérebro

O estudo do cérebro humano revela coisas surpreendentes. Conforme vamos investigando a estrutura e funcionamento deste complexo órgão, percebemos que nossos esforços para separar e classificar nosso comportamento em categorias distintas (como por exemplo pensamento, afeto e sensação) é bastante arbitrário e mesmo artificial.

Podemos começar essa análise discutindo funções básicas como o controle do sono e da fome com outras consideradas "superiores" como por exemplo os afetos e o pensamento. O hipotálamo é considerado um dos principais centros de controle do sono e da fome, que é efetuada através de seus núcleos (os núcleos do hipotálamo são compostos por corpos neuronais agrupados), e está localizado nas paredes do terceiro ventrículo, no "centro" do cérebro. Lesões ou alterações nos neurônios destes grupos, causados por traumas ou tumores, podem provocar fenômenos interessantes, como por exemplo aumento ou extinção do sentimento de fome e a eliminação do controle do sono, deixando uma pessoa indefinidamente consciente.

Além destas funções corporais, os neurônios dos núcleos hipotalâmicos também controlam a regulação de emoções. Intimamente em sintonia com outros centros de controle, como o sistema reticular ativador ascendente (SRAA), o hipotálamo ajuda na modulação de nosso humor, gerando estados de tranquilidade, paz e ansiedade face a um perigo. Alterações no funcionamento das vias do SRAA provocam efeitos sobre o comportamento como um todo, causando ao mesmo tempo variações de humor, perda ou aumento da necessidade de sono, dificuldades de raciocínio e alterações em nossa disposição.

E estes são sintomas clássicos de depressão. Quando alguém toma um antidepressivo, a medicação age diretamente nos centros do hipotálamo e outras regiões do cérebro, produzindo um efeito amplo que melhora o humor, o sono e a disposição. Isto ocorre porque os grupos de neurônios que regulam o sono, a fome e a energia ou são os mesmos ou estão intimamente relacionados.

Portanto, mesmo que na nossa vida prática nós tentemos separar as funções mentais, chamando-as de "afeto", "pensamento" ou "consciência", do ponto de vista neurológico estas distinções não parecem fazer muito sentido. Se a evolução produziu neurônios capazes de regular funções mentais tão distintas, pode-se observar que é de praxe na natureza a utilização de estruturas que possuem uma finalidade específica em usos diferentes.

Visto deste ângulo, faz muito sentido pensar que o comportamento humano é, de fato, uma unidade.