Pós-graduações IMED 2013

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O fim da avaliação multiaxial

Nas terceira e quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e de Comportamento da Associação Psiquiátrica Americana (DSM), a presença da avaliação multiaxial apresentou-se como uma das características definidoras da forma como os transtornos mentais eram avaliados pelos clínicos. Contudo, na versão mais recente - o DSM-5 -, o sistema multiaxial deixa de existir como estratégia de avaliação do comportamento.


De acordo com a APA, o DSM-III introduziu um número significativo de inovações, que incluíam critérios diagnósticos explícitos e o sistema multiaxial, além de uma abordagem ateórica para a etiologia dos transtornos mentais. A estrutura multiaxial perdurou no DSM-IV e no DSM-IV-TR, e orientou uma geração inteira de clínicos no sentido de observar, além dos transtornos mentais, de personalidade e retardo mental, doenças orgânicas associadas aos transtornos, a influência e os efeitos de variáveis psicossociais e ambientais sobre o comportamento patológico e uma escala de avaliação global do funcionamento (AGF).

Esta avaliação multiaxial buscou transcender o simples "olhar para o transtorno mental", forçando o clínico a compreender a dimensão orgânica do paciente, mas principalmente a influência de fatores externos sobre o seu comportamento. Este olhar mais amplo permitia uma visão de dimensões que, possivelmente, estivessem fora do alcance do clínico, mas que estão muito relacionadas com o surgimento e a manutenção dos sintomas.

As razões para tal mudança, segundo o manual lançado no mês de maio passado nos Estados Unidos, seriam que a avaliação multiaxial não era obrigatória para o diagnóstico de transtornos mentais, pois os eixos III, IV e V não contribuiriam diretamente para o diagnóstico do paciente. Embora o eixo IV - problemas psicossociais e ambientais - estivesse diretamente relacionado com o transtorno atual, ele não fornecia elementos diagnósticos (sintomas) que contribuíssem para a avaliação do paciente, mas forneceria dados referentes ao ambiente. Assim, a proposta é a de que, havendo a necessidade de apontar os fatores ambientais, que se utilize os códigos Z da CID-10.

Em relação ao eixo V - AGF -, a principal justificativa pela exclusão seria a de que a pontuação proposta não apresentava características psicométricas compatíveis com a prática cotidiana do clínico, embasando-se num juízo mais subjetivo, além de propor sintomas que não estavam necessariamente relacionados com o diagnóstico do eixo I. Como alternativa, o DSM-5 propõe outras escalas para avaliação do paciente, tais como a escala de avaliação de prejuízo da OMS, havendo a necessidade de avaliar o funcionamento global do paciente com parâmetros já estudados.

Embora o DSM-5 ofereça uma lista ampliada de diagnósticos, incluindo transtornos que em versões anteriores estavam incorporados em outros (como por exemplo o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual) ou que mereciam destaque tendo-se em vista os elevados prejuízos que produzem (como o Transtorno de Acumulação), corre-se o risco que, com a eliminação do sistema multiaxial, o clínico fique mais focado numa avaliação do paciente per se, talvez não focando-se com a atenção necessária para elementos ambientais fortemente relacionados com o transtorno apresentado no momento pelo paciente. É fundamental que o clínico mantenha-se atento para o paciente como um todo, o que inclui seu ambiente e sua história, pois somente desta forma será possível avaliar da forma mais adequada possível o quadro, bem como efetuar o melhor planejamento terapêutico.