Pós-graduações IMED 2013

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Bonsai


O menino, curioso sobre o que ocupa tanto tempo do avô, se acerca e observa. As experientes e enrugadas mãos manejam firmes e com destreza a pequena planta, demonstrando ao mesmo tempo segurança e carinho. De canto de olho, o avô nota os movimentos curiosos do neto e sorri, sem que a criança perceba.


O aumento da curiosidade faz o guri se aproximar e, nas pontas dos pés, vê o avô revirando a terra que deixou desnuda a raiz. Ora olhando para a planta, ora olhando para o avô, percebe que isso deve ser importante, porque há seriedade, silêncio e um ar de sagrado.

- O que está fazendo, vô?

- Um bonsai.

- O que é isso?

- Uma pequena árvore.

- E como se faz isso? Como faz pra encolher uma árvore? Pergunta o menino, do alto dos seus sete anos de idade.

Sorrindo, o avô paciente e amoroso responde: - Bem, a gente faz isso cuidando das raízes e das folhas.

- Como assim?

- De tempos em tempos, a gente olha como estão as raízes, e poda elas. Corta aquelas que estão em excesso, mas deixa as que farão a planta continuar vivendo. Com isso, ela se adapta e cresce tudo aquilo que as raízes que ficam permitirem.

Atentamente, o neto ouve que além de podar as raízes é necessário fazer a poda das folhas e galhos. Não se pode deixar pouca raiz se não for retirado o excesso de folhas: raiz de menos ou folhas demais, a planta morre. Então, é preciso cuidar do que está embaixo da terra tanto quanto aquilo que está acima.

Sem tirar os olhos do vaso, o avô diz:

- Da mesma forma é com a gente. Nós temos raízes, que são a família de onde viemos, nossos pais e irmãos. Eles nos nutrem com suas experiências, seu carinho, seus defeitos e qualidades, e isso tudo é o adubo que faz bastante do que a gente é. Se não cuidamos disso e se não podamos aquilo do passado que nos atrapalha, o que vem das raízes poderá nos fazer mal. Ao mesmo tempo tem as folhas: precisamos tirar aquelas que consomem muito, sem cortar as que nos deixam vivos. Estas folhas são a nossa vida atual: nossa escola, nosso trabalho, nossos amigos, filhos, netos... Precisamos escolher o que nos ajuda a crescer e lidar com o que pode nos prejudicar. A sabedoria do bonsai nos ensina a olhar para as raízes e para as folhas, e com isso damos a forma para a árvore que queremos ser.

O menino sorri e corre para o pátio. Atento para a terra, o avô mergulha no passado pensando no futuro.

*Publicado no jornal Diário da Manhã de Passo Fundo, 7 e 8/11/2015