Pós-graduações IMED 2013

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Psicologia e ciência (Ou: Como pode-se não gostar da ciência sendo psicólogo)

Muitos colegas psicólogos parecem ter certa aversão ao pensamento científico na psicologia. Isso é mais prejudicial do que benéfico, pois gera limitações nas possibilidades que temos para analisar o comportamento humano. E abaixo aponto alguns elementos que merecem uma atenção especial por parte dos psicólogos, estudantes e professores de psicologia.

1. Não vejo a psicologia científica como uma forma de desumanização. Muitos colegas psicólogos criticam o pensamento científico e descambam para áreas "alternativas" porque dizem que a ciência é desumana (e os conhecimentos alternativos seriam, portanto, mais humanos). Lastimo isso. Cria uma imagem de que a ciência não pode ser humana por ser racional. Mas é importante separar o conhecimento do uso que se faz dele. Esse sim pode ser desumano.

2. Ciência e psicologia são compatíveis. Mesmo que muitos psicólogos não pensem isso, acredito que é possível, sim, aliar a racionalidade científica com áreas como a subjetividade, sem fazer com que o ser humano seja menos humano, como dito acima. E isso também não significa dizer que as experiências subjetivas e os sentimentos não são importantes, que são secundários, etc. Apenas defendo que é possível um entendimento racional das emoções, tanto quanto do pensamento.

3. A aversão à quantificação na psicologia é uma consequência da visão preconceituosa de ciência. A quantificação é importante na psicologia. Os números são a linguagem que a ciência utiliza para comparar informações, pois os números são objetivos e possíveis de manipulação. A transformação das informações sobre o comportamento em números significa um esforço para compreender frequências, relações, comparar elementos (variáveis), dentre outras possibilidades. Muitos psicólogos são avessos aos números que traduzem comportamentos porque poderiam impedir a visão do "fenômeno em si mesmo", que é a pessoa agindo, e isso também seria desumanizar, coisificar. Mas transformar informações sobre o comportamento em números não significa isso: significa que é possível utilizar uma ferramenta importante, e isso pode de fato auxiliar muitas pessoas.

Infelizmente um dos elementos que perpetua esse panorama é a deficiência, encontrada muitas vezes, na própria formação da graduação. E é comum, infelizmente, relacionar essa deficiência com uma escassez da pesquisa dos próprios professores. Só é possível falar com propriedade de pesquisa quando o próprio professor é pesquisador. E se o professor não é pesquisador, não passa para o aluno o gosto pela pesquisa. Nem o gosto pela ciência.

2 comentários:

Hericka Zogbi J Dias, Dra. Me. disse...

Ok. Concordo com tudo que disseste. PORÉM, a mim parece que o buraco é mais embaixo.Qual o "para quê" de tudo isso? queremos formar 600 novos profissionais por ano? Desejamos isso?

Vinícius Ferreira disse...

Acho que tão importante quanto a quantidade de alunos é o tipo de formação que queremos para nossos profissionais... O que me preocupa é a visão preconceituosa de ciência que os profissionais (não só no caso dos psicólogos) saem da graduação possuindo. Porque essa visão determinará, na maior parte dos casos, a importância que eles darão para o conhecimento científico. Se têm uma formação que não ressalta adequadamente a importância do conhecimento científico, conseqüentemente as pesquisas realizadas terão dificuldade de penetrar no sistema de atualização profissional.