Pós-graduações IMED 2013

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sábado, 31 de agosto de 2013

Cidades inteligentes e o comportamento humano

Há alguns anos já se vem discutindo, especialmente via governos e grandes empresas como a Siemens e a IBM um conceito chamado de cidade inteligente. Nesse conceito, defende-se, em linhas gerais, que as tecnologias de informação são ferramentas que permitem modificações fundamentais sobre a forma como gerimos recursos e como nos relacionamos com o ambiente.

Uma das características principais das cidades inteligentes é a capacidade de estar "conectada", ou seja, de captar e processar informações, derivados de diferentes meios - tais como câmeras ou outros tipos de sensores - para que estas informações possam ser utilizadas para resolver problemas diversos, e otimizar recursos. Por exemplo, hoje tem-se a capacidade de identificar se uma determinada região está com as vias de trânsito obstruídas devido a um acidente; uma cidade inteligente é capaz de reduzir ou evitar congestionamentos através do monitoramento de vias de grande tráfego, desviando-o quando necessário para outras vias alternativas. Da mesma forma, uma gestão inteligente de recursos pode evitar problemas como apagões elétricos, que traz prejuízo a todos, através da previsão de um aumento do consumo de eletricidade.


Se os benefícios e as possibilidades dos recursos tecnológicos para se constituir e gerir cidades inteligentes é um recente, o conceito do uso de estratégias inteligentes para modificar padrões humanos de comportamento social não é. A psicologia e a sociologia já vem estudando aquilo que hoje chamamos de cidades inteligentes, focando em possibilidades de modificação do comportamento, há algumas décadas.

Um destes casos em especial chama-se Walden II. B. F. Skinner escreveu em 1945 um romance onde um grupo de pessoas descreve uma cidade planejada de acordo com a "engenharia comportamental" derivada dos conceitos fundamentais da teoria behaviorista. Ele propõe soluções para a educação, criação das crianças, educação e o trabalho. Um dos exemplos disso refere-se à escolha das profissões, onde Frazier, o idealizador da cidade, explica que um dos elementos que faz com que as pessoas escolham determinadas profissões seja a remuneração potencial, tanto quanto o status que a sociedade atribui a esta ocupação.

Por óbvio que a sociedade mudou muito desde que Walden II foi escrito, e também que nem todos os seus elementos podem ser aplicados diretamente na sociedade de hoje. Entretanto, é interessante observar que há um paralelo entre o que hoje chamamos de cidades inteligentes e o planejamento da vida, e que é crescente a necessidade de discutir estes temas coletivamente. Uma cidade verdadeiramente inteligente será aquela que seja capaz de discutir e alterar aspectos fundamentais da vida de forma importante para todos, para além das questões de destino de dejetos e eficiência energética.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A necessidade de renovação


A capacidade de adaptação ao ambiente é uma das propriedades dos seres vivos. Esta habilidade permite que o organismo e as espécies se ajustem às mudanças ambientais normais e esperadas, tanto quanto àquelas que não estão previstas. Sem a capacidade de adaptação e mudança, os seres vivos estariam extintos.


No caso dos seres humanos, há uma combinação fina e complexa entre a adaptação e a capacidade de mudança. Pela nossa herança evolutiva, possuímos uma forte tendência a nos ajustarmos comportamentalmente a uma determinada situação, e após este ajuste não temos muito interesse em fazer novas mudanças de comportamento. Do ponto de vista cognitivo essa estabilidade é importante, pois nos garante certa permanência de respostas de comportamento: se um comportamento funcionou bem no passado, por várias vezes, ele possui boa probabilidade de funcionar bem em situações semelhantes no futuro. Isso explica, em parte, porque é tão difícil mudar velhos hábitos, especialmente se eles foram bastante reforçados.

Mas a mudança é necessária, e periodicamente ela mostra suas exigências. Ela é o indicador inequívoco de que a natureza, o mundo, as pessoas não são estáticos, e isso exige sempre, em alguma medida, uma resposta do organismo. Essas mudanças podem ser superficiais, como as coisas simples do dia a dia como comprar uma roupa nova, ou podem ser essenciais e marcantes; essas exigem os esforços mais profundos e causam as dores mais significativas, porque provocam uma revisão na forma como nos comportamos, como vemos as coisas. Mudanças assim são dolorosas, e por isso acabamos adiando, resistindo, negando.

Estamos novamente nos aproximando de um período que tradicionalmente as pessoas reveem seus comportamentos, conceitos e expectativas sobre a vida. É um momento no qual a mudança pode acontecer mais facilmente porque existe uma sensibilidade para a avaliação e a mudança. Mas estamos falando das superficiais ou das profundas? É uma mudança de visão de mundo? De alguns paradigmas, pelo menos? Os esquemas cognitivos nos dão parâmetros para lidar com o mundo, mas em algum momento eles mesmos necessitam de revisão. Por óbvio que as mudanças superficiais são as mais fáceis, mas as mudanças de referência, de esquema de mundo, são as mais duradouras. O esforço de mudar algum aspecto enraizado de nosso comportamento é grande, mas ele está acompanhado geralmente de bons ganhos.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O IDEB e os desafios da educação


Preocupantes os dados educacionais do último Índice de Educação da Educação Básica (IDEB). O Rio Grande do Sul apresentou uma estagnação da nota no ensino fundamental, e no ensino médio ocorreu uma diminuição do desempenho, de acordo com os resultados apresentados nesta semana.


Cabe então refletir sobre as causas deste desempenho fraco e sobre o que necessita ser feito para melhorar a educação, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. São vários os fatores que geraram estes baixos índices, tais como as precárias condições físicas de ensino das escolas públicas, falta de renovação de acervo bibliográfico e investimento em mídias de ensino, além de problemas mais complexos, como a estruturação das matrizes curriculares e a remuneração dos professores. Mas isto não é novidade, pois há vários governos estamos nos defrontando com os mesmos problemas, e as soluções oferecidas são muito pontuais e transitórias. Se juntarmos a isso uma cultura brasileira imediatista e que não valoriza o ensino de excelência com o crescente número de professores sem estímulo intelectual e financeiro para desempenhar o seu trabalho, sem boas perspectivas de carreira, temos a tragédia instalada. Estão aí os números a confirmar.

Não é possível mudar a educação brasileira, aproximando-a de países destacados como a Coréia do Sul, sem alterações profundas e prolongadas. Mas para isso, é necessário rever muita coisa: a formação pedagógica de nossos professores, as propostas de currículo e, principalmente, a forma como o ensino acontece no dia a dia. Também é fundamental termos os pais como aliados no processo educacional, porque de nada adianta delegar para a escola tarefas que devem deles, pois também os pais precisam compreender e auxiliar o trabalho dos professores.

Tal como a educação dos nossos filhos, que não ocorre do dia para a noite, a educação dos nossos alunos também precisa ser inteligente, adequada às necessidades atuais e prevendo o que desejamos para nossos futuros cidadãos e profissionais. E não temos como delegar isso a terceiros, esperando por um milagre. Cada um de nós precisa ser o agente desta mudança hoje. Então, se você tem filhos, se você é estudante ou professor, pense e modifique a forma como está agindo, e faça isso dia a dia, hoje, amanhã, depois. Participe das reuniões de escola, converse com os professores e diretores, veja se a forma como a aula é ministrada faz a diferença na vida dos alunos, se pergunte se este é o melhor ensino possível. Não vai mudar amanhã, mas se o começo não for hoje, jamais acontecerá.

*Publicado no jornal Diário da Manhã, de 28 de agosto de 2012.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Uma coisa por vez

Aquilo que intuitivamente já sabemos, ou seja, de que precisamos nos concentrar em poucas ou somente uma coisa por vez para fazermos bem-feito, foi comprovado. O neurologista Russ Poldrack, da Universidade do Texas, em Austin, refere que o cérebro humano não é capaz de processar de forma eficiente várias informações simultâneas, mas processa bem poucas informações por vez.


Esta informação tem importante impacto por exemplo no contexto educacional. Muitos educadores têm defendido o uso de tecnologias no processo ensino-aprendizagem durante aulas expositivas. Embora não se questione o mérito da utilização de novas tecnologias, fica em xeque a forma como a aprendizagem ocorre de maneira eficiente. Ou seja: se o aluno estiver numa aula com o computador, tablet ou conectado com outra tecnologia, seu conhecimento pode estar no prejuízo.

A psicologia cognitiva já apontou há vários anos que a atenção é o canal que permite que as informações sejam processadas pelas demais funções mentais, tais como a memória e o pensamento. Quando prestamos atenção em um objeto, ele é o "foco" de nossa análise. Assim, se existem distratores, essa análise acaba ficando a desejar, e o conhecimento não terá a mesma qualidade.

Voltando à sala de aula, o segredo não está na tecnologia propriamente utilizada para a construção do conhecimento, mas na sua forma e no conteúdo. Fica então um alerta: computador ligado em redes sociais, jogos ou outros distratores durante uma aula pode melhorar o relacionamento interpessoal, mas não favorece o aprendizado.

*Sugestão de leitura: Troques da mente, de Stephen L. Macknik e Susana Martinez-Conde