Pós-graduações IMED 2013

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domingo, 7 de setembro de 2014

Uso de estimulação magnética transcraniana é eficaz no tratamento de sintomas depressivos

Um estudo conduzido pelo McLean Hospital, da Harvard University, apresentou que a estimulação neurológica através de campos magnéticos é eficaz no tratamento de sintomas depressivos, aliviando o humor dos pacientes.

Fonte: Harvard Gazette

O campo magnético possui menor intensidade em comparação àqueles utilizados na estimulação magnética transcraniana (EMT) convencional. Contudo, possui uma frequência mais elevada; isto seria um dos fatores que melhoraria mais rapidamente o humor dos pacientes em relação à EMT convencional, que demora mais para produzir os efeitos desejados.

Uma combinação entre EMT de alta frequência com medicamentos pode ser uma estratégia eficaz no tratamento da depressão. Pode-se pensar também que a utilização da EMT até que os medicamentos comecem a ter efeitos mais duradouros sobre o humor (o que geralmente dura entre duas e três semanas) seja considerada um aperfeiçoamento ao tratamento convencional.

O avanço no tratamento de sintomas depressivos é algo necessário, tendo-se em vista os grandes prejuízos pessoais, interpessoais e laborais que provocam na vida de uma pessoa. Deve-se sempre ter em vista que apenas o tratamento medicamentoso, por si só, não é uma estratégia totalmente eficiente para a melhora dos sintomas. A psicoterapia é fundamental para a melhoria dos sintomas depressivos, ajudando o paciente a rever aspectos de sua vida e a melhorar o controle de novas crises.

Link da notícia

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Descobertos genes relacionados ao Transtorno Afetivo Bipolar

O transtorno afetivo bipolar (TAB) é caracterizado por grandes variações de humor, fazendo com que a pessoa ora experimente fortes sintomas depressivos e, pouco tempo após, sinta-se muito bem, com energia e disposição bastante elevadas. Estes sintomas causam prejuízo significativo nas relações interpessoais e no trabalho, pois se a pessoa possui dificuldade para estabilizar seu humor, alternando períodos de "alta" e "baixa", terá dificuldades para manter um relacionamento estável e um rendimento laboral adequado.

A prevalência do transtorno, segundo o DSM-5, é de aproximadamente 0,6% da população (nos Estados Unidos). Considerando estes dados para o censo do Brasil (2010), estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenha o transtorno.

Fonte: Cultura

Recentemente, o professor Markus Nothen da Universidade de Bonn, Alemanha, identificou genes relacionados com o transtorno bipolar. Comparados com pessoas sem o transtorno, há três genes que ocorrem com maior frequência em pessoas com o transtorno, o que poderia aumentar as chances de provocar as variações de humor.

Os achados são relevantes para a compreensão mais ampla do transtorno. Contudo, reduzir o TAB à genética é simplista. Dados de pesquisa neurológica apontam que as estimulações que uma pessoa tem do ambiente são tão determinantes quanto a genética na definição do comportamento. Mesmo que uma pessoa tenha genes que favoreçam o TAB, o ambiente é "gatilho" que favorece, ou não, o aparecimento dos sintomas. Se uma pessoa possui os genes, mas o ambiente oferece poucos estressores ou a pessoa gerencia bem estas pressões, a probabilidade de aparecimento dos sintomas é muito menor.

Dados de pesquisa genética e biológica precisam ser cruzados com a pesquisa psicológica. O comportamento humano é complexo e multideterminado. Hoje se sabe que não podemos, apenas em raras situações, atribuir a causa de algum transtorno mental apenas a um fator. Quando fazemos isso, estamos simplificando uma coisa que não é simples. A melhor compreensão do comportamento humano leva em conta a grande gama de variáveis ambientais e biológicas que nos constituem e compõem nossa história.

domingo, 13 de janeiro de 2013

O que funciona no tratamento da depressão?


Há algum tempo, a depressão foi considerada o mal do século. Infelizmente este título lhe faz jus, tendo-se em vista os enormes prejuízos sociais e laborais que este transtorno é capaz de gerar.

Estatísticas recentes da Organização Mundial da Saúde apontam que entre 10 e 20 por cento da população já teve ou terá um transtorno depressivo ao longo de sua vida. Resumidamente, os principais sintomas que a depressão apresenta são perda do interesse ou prazer, humor deprimido, mudanças de peso sem serem programadas por dietas ou outras intervenções, insônia ou sono excessivo e fadiga. Pode ocorrer também irritabilidade com agitação, sentimentos de culpa excessivos e dificuldade de concentração, além de pensamentos relacionados com a morte. Estes sintomas precisam estar presentes por, pelo menos, duas semanas, durante todos os dias ou por boa parte dos dias. Portanto, é plenamente compreensível que este seja um transtorno preocupante e incapacitante para as pessoas.


De forma diferente de outras condições médicas, a depressão é um quadro complexo que exige dos psicólogos, psiquiatras e demais profissionais da saúde uma atenção para o diagnóstico e o tratamento. Isso se deve ao fato de que os transtornos mentais são causados, em parte, por fatores biológicos, como a genética, e em parte por fatores comportamentais, como por exemplo a criação, relacionamento com as pessoas significativas e o estresse ambiental. Essa combinação complexa de fatores é única para cada paciente, e precisa ser levada em conta no diagnóstico e no tratamento. Sem atacar estas duas pontas, o problema permanecerá existindo com intensidade.

Não existe atualmente uma fórmula única e infalível para o tratamento da depressão. Embora a indústria farmacêutica avance a cada dia, oferecendo novas estratégias mais eficientes no combate aos sintomas depressivos, dificilmente uma medicação sozinha terá a palavra final no tratamento deste transtorno. Em pesquisa recente publicada pela PLOS ONE, onde Arif Khan, da Northwest Clinical Research Center de Washington, fez um levantamento com 13.802 pacientes que participaram de estudos sobre a depressão entre os anos de 1979 e 2001, foi identificado que o melhor tratamento contra os sintomas depressivos é uma combinação entre psicoterapia e a administração de medicamentos. Esse resultado foi melhor em comparação com a administração isolada de medicamentos e melhor também do que a psicoterapia somente. Assim, há sólidas evidências que é a combinação entre psicoterapia e medicamento o que faz a diferença no tratamento dos quadros depressivos.

Resta por fim lamentar que os convênios não sejam suficientemente sensíveis a estes dados de pesquisas. Focados ainda nos tratamentos médico-biológicos tradicionais, são raros os que aceitam cadastramento de psicólogos para tratamento psicoterápico. Muito se melhoraria a qualidade de vida dos pacientes e a velocidade de resposta terapêutica, com menos dias de hospitalização e outros efeitos danosos, se estes dados fossem considerados. Talvez somente por força de lei, que já vem fazendo bons progressos nos últimos anos, e com muita, mas muita reclamação dos conveniados, que esta barreira seja finalmente derrubada.

*Artigo publicado no jornal O Nacional, de 5 e 6 de janeiro de 2013

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Confusão entre depressão e sintomas depressivos

Realizando uma pesquisa em periódicos científicos, encontrei este texto, que faz um apontamento bem relevante sobre a diferença entre depressão e sintomas depressivos.

Embora seja comum na prática dos profissionais da saúde mental o uso do termo "depressão", cabe ressaltar que depressão é um diagnóstico, com critérios bem definidos de acordo com manuais diagnósticos (como a Classificação Internacional de Doenças - CID ou o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana - APA).

Por sua vez, "sintomas depressivos" são apenas os elementos que, em conjunto e por determinado período de tempo, caracterizam o diagnóstico de depressão.

Como professor de psicopatologia, já venho há alguns anos trabalhando com esta distinção, pois observo entre os alunos de psicologia, e entre colegas, o uso inadequado do termo depressão quando na verdade estão se referindo somente aos sintomas depressivos.

A depressão deveria ser utilizada apenas quando há um diagnóstico, ou seja, quando houve uma avaliação clínica, efetuada por um profissional treinado, com conhecimento em psicologia, e preferencialmente com a aplicação de testagens específicas. Fora deste contexto, seria adequada apenas a atribuição de sintomas depressivos.

De forma semelhante, muitos colegas referem-se aos transtornos de ansiedade como se fossem sinônimos de sintomas ansiosos. Igualmente inadequado.

A disseminação na mídia e na linguagem comum de depressão e ansiedade, muitas vezes pela falta de informação qualificada, está atingindo até nossos colegas, que deveriam ter clareza sobre estas diferenças.

Acho importante divulgar esta informação não por preciosismo, mas por clareza. A psicologia somente terá condições de avançar se pudermos eliminar distâncias, e não criando mais trincheiras. O uso de uma linguagem comum contribui para este mister.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A eficácia dos antidepressivos II

Seguindo os problemas apontados na postagem anterior, que mencionou que antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) não seriam mais eficazes do que placebo, outro tema merece uma atenção cuidadosa pelos profissionais da saúde mental: os antidepressivos não funcionariam como se acredita que funcionam.

O modelo médico vigente de saúde-doença postula que o tratamento deve idealmente reestabelecer o funcionamento prévio do organismo; então, o objetivo da medicação é "normalizar" as funções que não estão equilibradas. Assim, o funcionamento de medicações antidepressivas deve-se ao fato de que a medicação aumentaria os níveis disponíveis de serotonina para os neurônios, facilitando o funcionamento das sinapses. Até aqui tudo bem, a não ser a falta de comprovação de que isto ocorre de fato.

Joanna Moncrieff, da University College London e David Cohen, da Florida International University, discutiram essa questão num artigo onde é proposto que antidepressivos criariam um estado "atípico" no cérebro. Este estado diferenciado é o que produziria os efeitos antidepressivos, de modulação do humor e redução dos sentimentos de tristeza e os outros sintomas da depressão.

O que sustenta esta tese? Os autores argumentam que haveria pouca evidência que sustenta que os antidepressivos reestabelecem os níveis normais de neurotransmissores - pesquisas não mostram, por exemplo, falta de serotonina (um neurotransmissor que seria relacionado à depressão) ou outras monoaminas em pessoas com diagnóstico de depressão. Estudos com animais também apresentam inconsistências, que referem-se especialmente a "o que" seriam os sintomas de depressão nestes animais. Estes argumentos, dentre vários, seriam suficientes para levantar a lebre.

Assim, os autores citados apresentam uma explicação alternativa para o funcionamento de antidepressivos. O modelo padrão é o centrado na doença, que explica que os antidepressivos funcionam porque reestabeleceriam os níveis anormais de neurotransmissores. O alternativo, chamado de "modelo centrado no medicamento", aposta que é a alteração cerebral provocada pelo medicamento o que traria um alívio dos sintomas. Seria mais ou menos como dizer que o álcool seria um bom tratamento para fobia social porque "solta" a pessoa.

Se o modelo centrado na droga se mostrar coerente, muita coisa vai mudar no entendimento e no tratamento dos transtornos mentais.

domingo, 17 de outubro de 2010

A eficácia dos antidepressivos

Um artigo publicado em 2008 na PLoS causou certo tremor na comunidade científica, pois apontou que os antidepressivos da quarta geração, que incluem fluoxetina, venlafaxina, nefazodona, paroxetina, sertralina e citalopram, considerados inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), não teriam efeito superior ao placebo.

O estudo consistiu em uma meta-análise (um estudo sobre dados já publicados) que englobou 35 estudos quase-experimentais analisou parâmetros estatísticos relevantes (como variância, desvio-padrão e diferença entre as médias), abrangendo 3.292 pessoas no grupo-teste (com utilização de um dos medicamentos) e 1.841 no grupo controle (com placebo). O que é especialmente interessante na análise conduzida por Irving Kirsch e equipe foi a fonte dos dados.

A indústria farmacêutica norte-americana deve submeter todo e qualquer estudo realizado ao Food and Drug Administration (FDA), que é o órgão controlador dos medicamentos nos Estados Unidos - mesmo (e principalmente) os estudos que não demonstram eficácia da medicação. Desta forma, estes dados provavelmente possuem pouco ou nenhuma tendência (viés) a aumentar os efeitos das medicações, mas demonstrar os efeitos que realmente foram identificados.

O artigo de Kirsch et al. demonstrou que os participantes dos grupos-teste destes 35 estudos não apresentaram mudanças superiores em relação aos pacientes dos grupos controle, a não ser os pacientes que apresentavam depressão grave. Entretanto, mesmo para estes, Kirsch et al. argumentam que o que houve não foi, efetivamente, um aumento da eficácia dos medicamentos, mas sim uma diminuição do efeito placebo, que cria a ilusão de que os efeitos dos medicamentos foram maiores.

O estudo, bem conduzido do ponto de vista metodológico, aponta para uma valorização do trabalho do psicólogo, visto que se as medicações realmente são pouco eficazes, o que faz a grande diferença no tratamento da depressão é a psicoterapia.

Uma entrevista de Irving Kirsch pode ser lida aqui.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cuidado com a depressão

Dentre os transtornos mentais mais comentados nos últimos anos está a depressão. Arrisco a dizer que não há um telenoticiário, um jornal ou estação de rádio que não tenha veiculado alguma notícia sobre este transtorno, o que reflete a popularidade deste tema.

Entretanto, por paradoxal que pareça, muito se fala em depressão mas pouco se conhece sobre ela em detalhes. Para começar, é fundamental diferenciar a depressão da tristeza. Muitas pessoas dizem que estão com depressão ao menor sinal de tristeza, o que não é correto. A depressão consiste em um conjunto de sintomas, como insônia ou hipersonia, perda ou amento de apetite e tristeza. Mas não qualquer tristeza; precisa ser constante, intensa e estar além do sentimento de controle da pessoa. Aí já podemos pensar na possibilidade de uma depressão. A tristeza é um sentimento momentâneo, mas o principal elemento de diferenciação é a tristeza passa, e a pessoa volta ao humor habitual. A depressão persiste.

Outro ponto, mais técnico, diz respeito ao diagnóstico de depressão. Temos observado que parece ser comum o diagnóstico de depressão, mesmo por profissionais não especialistas. Acreditamos que fazer isto é arriscado, pois como dissemos acima, nem toda tristeza referida pelo paciente é um diagnóstico de depressão. Isso ocorre porque há vários outros diagnósticos que apresentam sintomas depressivos, gerando um equívoco. Por exemplo, no transtorno de personalidade borderline, há crises de depressão; se estas forem observadas isoladamente, sem levar em conta o histórico de comportamento e sintomas do paciente, o diagnóstico seria de depressão, mas o paciente tem algo que pode ser mais grave e persistente, e obviamente vai exigir uma série de intervenções bem diferenciadas do que se fosse somente depressão, e por um período de tempo mais prolongado. Sadock & Sadock (2007, p. 580) referem que de 25% a 50% dos pacientes diagnosticados inicialmente com depressão tiveram posteriormente seus diagnósticos refeitos para outras condições psiquiátricas, o que mostra o tamanho do cuidado que se deve tomar no diagnóstico de depressão.

Portanto, na presença de sintomas de depressão, busque um bom especialista na área.

Referência bibliográfica

SADOCK, Benjamim J.; SADOCK, Virginia A. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 9 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.