Pós-graduações IMED 2013

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Descobertos genes relacionados ao Transtorno Afetivo Bipolar

O transtorno afetivo bipolar (TAB) é caracterizado por grandes variações de humor, fazendo com que a pessoa ora experimente fortes sintomas depressivos e, pouco tempo após, sinta-se muito bem, com energia e disposição bastante elevadas. Estes sintomas causam prejuízo significativo nas relações interpessoais e no trabalho, pois se a pessoa possui dificuldade para estabilizar seu humor, alternando períodos de "alta" e "baixa", terá dificuldades para manter um relacionamento estável e um rendimento laboral adequado.

A prevalência do transtorno, segundo o DSM-5, é de aproximadamente 0,6% da população (nos Estados Unidos). Considerando estes dados para o censo do Brasil (2010), estima-se que cerca de um milhão de pessoas tenha o transtorno.

Fonte: Cultura

Recentemente, o professor Markus Nothen da Universidade de Bonn, Alemanha, identificou genes relacionados com o transtorno bipolar. Comparados com pessoas sem o transtorno, há três genes que ocorrem com maior frequência em pessoas com o transtorno, o que poderia aumentar as chances de provocar as variações de humor.

Os achados são relevantes para a compreensão mais ampla do transtorno. Contudo, reduzir o TAB à genética é simplista. Dados de pesquisa neurológica apontam que as estimulações que uma pessoa tem do ambiente são tão determinantes quanto a genética na definição do comportamento. Mesmo que uma pessoa tenha genes que favoreçam o TAB, o ambiente é "gatilho" que favorece, ou não, o aparecimento dos sintomas. Se uma pessoa possui os genes, mas o ambiente oferece poucos estressores ou a pessoa gerencia bem estas pressões, a probabilidade de aparecimento dos sintomas é muito menor.

Dados de pesquisa genética e biológica precisam ser cruzados com a pesquisa psicológica. O comportamento humano é complexo e multideterminado. Hoje se sabe que não podemos, apenas em raras situações, atribuir a causa de algum transtorno mental apenas a um fator. Quando fazemos isso, estamos simplificando uma coisa que não é simples. A melhor compreensão do comportamento humano leva em conta a grande gama de variáveis ambientais e biológicas que nos constituem e compõem nossa história.

domingo, 22 de dezembro de 2013

O medo apagado

O medo é uma reação instintiva que auxilia os animais a evitar situações aversivas, aumentando as chances de sobrevivência. A seleção natural promoveu a reprodução e o refinamento deste comportamento como uma estratégia para manter o organismo vivo, pelo aprendizado da diferença entre o que é seguro e o que aparentemente não é.

Contudo, experiências de medo excessivo podem ter efeitos colaterais, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O DSM-5 (2013) refere este transtorno como uma situação de exposição a situações que geraram risco de morte, lesões ou violência sexual, seja ela vivida ou presenciada.

Fonte: iStock/HMS

Os principais sintomas do TEPT são a recorrência involuntária de memórias intrusivas do evento e um esforço importante para evitar essas memórias, sonhos relacionados à situação e problemas de sono, uma revivência do trauma, como se estivesse novamente o presenciando e evitação de pessoas e situações que possam relembrar o trauma. Além disso, pode ocorrer "apagões" de memórias relacionadas ao evento, medo de estranhos, dificuldades de concentração. Finalmente, os aspectos emocionais incluem um sentimento de ser mau por ter passado pelo evento, culpa, medo, irritabilidade aumentada, vergonha e dificuldade para sentir novamente emoções positivas.

Como estratégia de tratamento deste quadro, pesquisadores do McLean Hospital da Harvard Medical School relataram que a alteração da atividade da córtex pré-frontal medial está associada com uma redução da atividade da amígdala, estrutura cerebral associada a comportamentos de medo. O pesquisador Vadim Bolshakov publicou um artigo na revista Neuron onde relata que as experiências de medo em ratos foram suprimidas através da estimulação desta região da córtex. Assim, houve uma inibição do funcionamento da amígdala, e as reações fortes de medo que antes ocorriam passaram a praticamente não ocorrer mais.

Esse achado pode ajudar de forma importante a tratar pessoas com dificuldades severas em lidar com o medo, especialmente para aquelas que a psicoterapia não esteja sendo eficaz. O conhecimento dos circuitos cerebrais envolvidos nas respostas emocionais é fundamental para compreendermos os mecanismos do comportamento, além de fornecer novos recursos terapêuticos para o tratamento de psicopatologias.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O fim da avaliação multiaxial

Nas terceira e quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais e de Comportamento da Associação Psiquiátrica Americana (DSM), a presença da avaliação multiaxial apresentou-se como uma das características definidoras da forma como os transtornos mentais eram avaliados pelos clínicos. Contudo, na versão mais recente - o DSM-5 -, o sistema multiaxial deixa de existir como estratégia de avaliação do comportamento.


De acordo com a APA, o DSM-III introduziu um número significativo de inovações, que incluíam critérios diagnósticos explícitos e o sistema multiaxial, além de uma abordagem ateórica para a etiologia dos transtornos mentais. A estrutura multiaxial perdurou no DSM-IV e no DSM-IV-TR, e orientou uma geração inteira de clínicos no sentido de observar, além dos transtornos mentais, de personalidade e retardo mental, doenças orgânicas associadas aos transtornos, a influência e os efeitos de variáveis psicossociais e ambientais sobre o comportamento patológico e uma escala de avaliação global do funcionamento (AGF).

Esta avaliação multiaxial buscou transcender o simples "olhar para o transtorno mental", forçando o clínico a compreender a dimensão orgânica do paciente, mas principalmente a influência de fatores externos sobre o seu comportamento. Este olhar mais amplo permitia uma visão de dimensões que, possivelmente, estivessem fora do alcance do clínico, mas que estão muito relacionadas com o surgimento e a manutenção dos sintomas.

As razões para tal mudança, segundo o manual lançado no mês de maio passado nos Estados Unidos, seriam que a avaliação multiaxial não era obrigatória para o diagnóstico de transtornos mentais, pois os eixos III, IV e V não contribuiriam diretamente para o diagnóstico do paciente. Embora o eixo IV - problemas psicossociais e ambientais - estivesse diretamente relacionado com o transtorno atual, ele não fornecia elementos diagnósticos (sintomas) que contribuíssem para a avaliação do paciente, mas forneceria dados referentes ao ambiente. Assim, a proposta é a de que, havendo a necessidade de apontar os fatores ambientais, que se utilize os códigos Z da CID-10.

Em relação ao eixo V - AGF -, a principal justificativa pela exclusão seria a de que a pontuação proposta não apresentava características psicométricas compatíveis com a prática cotidiana do clínico, embasando-se num juízo mais subjetivo, além de propor sintomas que não estavam necessariamente relacionados com o diagnóstico do eixo I. Como alternativa, o DSM-5 propõe outras escalas para avaliação do paciente, tais como a escala de avaliação de prejuízo da OMS, havendo a necessidade de avaliar o funcionamento global do paciente com parâmetros já estudados.

Embora o DSM-5 ofereça uma lista ampliada de diagnósticos, incluindo transtornos que em versões anteriores estavam incorporados em outros (como por exemplo o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual) ou que mereciam destaque tendo-se em vista os elevados prejuízos que produzem (como o Transtorno de Acumulação), corre-se o risco que, com a eliminação do sistema multiaxial, o clínico fique mais focado numa avaliação do paciente per se, talvez não focando-se com a atenção necessária para elementos ambientais fortemente relacionados com o transtorno apresentado no momento pelo paciente. É fundamental que o clínico mantenha-se atento para o paciente como um todo, o que inclui seu ambiente e sua história, pois somente desta forma será possível avaliar da forma mais adequada possível o quadro, bem como efetuar o melhor planejamento terapêutico.