Muitas vezes a mente humana foi comparada a um computador. Guardando as devidas proporções, ela é de fato um órgão computacional, responsável pelo gerenciamento das informações produzidas pelo corpo e por ela própria. Entretanto, por mais complexa que a mente seja, é um produto da evolução do cérebro, seu órgão-sede.
De forma diferente de um programa de computador, mente e cérebro foram se auto-organizando com o processo da evolução da espécie humana. Ao longo das eras, percebe-se uma organização cada vez mais complexa, desde os organismos do reino monera até os animais, passando pelos reinos protista, fungi e vegetal. Quanto mais complexo o organismo se torna, buscando nichos diferentes de subsistência, maior é a necessidade de uma estrutura que receba adequadamente as informações exoceptivas e proprioceptivas e processe-as com agilidade e precisão. Podemos dizer que no organismo humano a mente não necessariamente é tão precisa assim nos processos perceptivos, mas de longe possui uma habilidade que nenhum outro organismo possui: a flexibilidade para o processamento da informação.
Mecanismos mentais como os sentimentos, os processos lógicos de raciocínio e tomada de decisões são resultados do processo evolutivo da espécie humana que, de alguma forma, proporcionaram pequenas vantagens evolutivas, e em vista disso permaneceram. Desta forma, estrutura (cerebral) e função (mental) foram modelados pelas contingências da sobrevivência e se adaptaram mutuamente. Podemos então dizer que, se o cérebro é uma espécie de "computador", é de um tipo muito especial, pois hardware e software foram se constituindo simultaneamente.
A psicologia, neste sentido, pode ser vista como engenharia reversa, buscando identificar, a partir das funções desempenhadas pela mente, a finalidade que esta função desempenhou ao longo do processo de evolução da espécie humana e que favoreceu a luta pela sobrevivência. Esse conhecimento é de utilidade fundamental para a psicologia clínica, visto que é pela compreensão da estrutura de funções como auto-estima, apego, egoísmo e altruísmo que se poderá compreender o estabelecimento de transtornos mentais.
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