Dentre os transtornos mentais mais comentados nos últimos anos está a depressão. Arrisco a dizer que não há um telenoticiário, um jornal ou estação de rádio que não tenha veiculado alguma notícia sobre este transtorno, o que reflete a popularidade deste tema.
Entretanto, por paradoxal que pareça, muito se fala em depressão mas pouco se conhece sobre ela em detalhes. Para começar, é fundamental diferenciar a depressão da tristeza. Muitas pessoas dizem que estão com depressão ao menor sinal de tristeza, o que não é correto. A depressão consiste em um conjunto de sintomas, como insônia ou hipersonia, perda ou amento de apetite e tristeza. Mas não qualquer tristeza; precisa ser constante, intensa e estar além do sentimento de controle da pessoa. Aí já podemos pensar na possibilidade de uma depressão. A tristeza é um sentimento momentâneo, mas o principal elemento de diferenciação é a tristeza passa, e a pessoa volta ao humor habitual. A depressão persiste.
Outro ponto, mais técnico, diz respeito ao diagnóstico de depressão. Temos observado que parece ser comum o diagnóstico de depressão, mesmo por profissionais não especialistas. Acreditamos que fazer isto é arriscado, pois como dissemos acima, nem toda tristeza referida pelo paciente é um diagnóstico de depressão. Isso ocorre porque há vários outros diagnósticos que apresentam sintomas depressivos, gerando um equívoco. Por exemplo, no transtorno de personalidade borderline, há crises de depressão; se estas forem observadas isoladamente, sem levar em conta o histórico de comportamento e sintomas do paciente, o diagnóstico seria de depressão, mas o paciente tem algo que pode ser mais grave e persistente, e obviamente vai exigir uma série de intervenções bem diferenciadas do que se fosse somente depressão, e por um período de tempo mais prolongado. Sadock & Sadock (2007, p. 580) referem que de 25% a 50% dos pacientes diagnosticados inicialmente com depressão tiveram posteriormente seus diagnósticos refeitos para outras condições psiquiátricas, o que mostra o tamanho do cuidado que se deve tomar no diagnóstico de depressão.
Portanto, na presença de sintomas de depressão, busque um bom especialista na área.
Referência bibliográfica
SADOCK, Benjamim J.; SADOCK, Virginia A. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 9 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Um comentário:
No mundo leigo - e pop - dos transtornos mentais, tristeza se confunde com depressão na mesma medida em que crianças sapecas se confundem com crianças hiperativas.
A propósito, seria bacana um texto sobre como a Psicologia Cognitiva entende e lida com a depressão. Deixo aí minha sugestão.
No mais, parabéns pela iniciativa. Estou seguindo você. Um abraço!
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