Pós-graduações IMED 2013

domingo, 15 de julho de 2007

Corpo e mente (IV)

Li certa vez (não sei onde nem por quem foi escrito) que a cada três anos todos os átomos do nosso corpo são substituídos. Somos então totalmente diferentes do ponto de vista atômico, pois não possuo mais o mesmo conjunto de átomos. E se estendermos o raciocínio para mais além, no nível sub-atômico, podemos dizer que o problema é bem pior, pois se os átomos são compostos por sub-partículas que podem, ao bel-prazer da física quântica, aparecer ou desaparecer do nosso universo sem nos prestar conta (segundo algumas interpretações), aí sim a coisa complica ainda mais. Conclui-se que somos compostos de elementos que podem simplesmente desaparecer ou aparecer de um universo paralelo e que, além disso, nossos átomos mais cedo ou mais tarde nos abandonam em troca de outros. Mas que droga, por que não nos lembramos das viagens de nossas sub-partículas nos universos paralelos?

Então se fôssemos partir para o mais recôndito da matéria poderíamos dizer que a cada três anos somos totalmente outra pessoa. Mas porque esse dado não condiz com nossa percepção? Temos um sentimento de identidade de que nós somos "nós", apesar de nossas experiências mudarem dia a dia. Lembramos que ontem almoçamos com nossos pais, fomos trabalhar e depois dormimos. Alguém sensato diria: OK, somos feitos de matéria e energia, mas nossa consciência, memória e demais funções dependem basicamente do funcionamento dos neurônios, e é por isso que mantemos nossa identidade. Sim, a não ser que voltemos atrás na argumentação e consideremos que a sede do pensamento é a alma.

Defender que coisas como "o pensamento interfere na organização da matéria" ou "pensamento é energia que influencia a energia" como fazem alguns pseudo-cientistas é um raciocínio falho que está baseado nesse tipo de equívoco. No anseio de encontrar "algo" que possa ser a sede do ser, ou do desejo infantil de querer modificar o mundo com nossos pensamentos acaba-se usando a física quântica, que praticamente ninguém conhece devidamente além dos próprios físicos quânticos, para levar a um nível desconhecido aquilo que realmente é um mistério. Em outras palavras, tenta-se explicar um mistério utilizando um conhecimento que só pode ser adequadamente avaliado se conhecemos matemática com um nível elevado de complexidade. Isso significa que pessoas que não acreditam nos métodos da ciência, ou ao menos não acreditam nos seus resultados, acabam usando os conhecimentos dos cientistas, que utilizam uma racionalidade extrema e uma linguagem matemática: usam como argumento aquilo que desejam combater. Isso prova que praticamente nada resiste a uma boa retórica, um conhecimento escasso sobre ciência e o desejo de provar que temos/somos algo além de nosso corpo.

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