Grande parte das pessoas já ouviu falar da teoria da evolução de Charles Darwin. Sua contribuição para as ciências biológicas foi a formulação de uma teoria sobre o surgimento dos espécimes, concorrente com a de Jean Baptiste Lamarck. Enquanto Lamarck defendia que os seres vivos se modificavam pelo uso de seus membros e órgãos, e que esse funcionamento para mais ou menos passava de geração a geração, Darwin partiu de outra premissa: não é o uso dos órgãos que favorece ou não a modificação de uma espécie, mas a funcionalidade deste órgão ou característica, que permitiria duas coisas: maiores chances de sobrevivência e mais oportunidades para a reprodução.
Até aqui, tudo bem. Se raciocinamos sobre a teoria de Darwin, que é a mais amplamente aceita na comunidade científica apesar de detalhes teóricos que ainda não foram resolvidos, podemos aceitar que ela oferece uma explicação coerente sobre o surgimento e o desenvolvimento da vida no planeta. Em suma, ela propõe que não existe uma meta final para a vida, mas sim que esta vai se construindo um pouco a esmo, ao sabor de acasos e acidentes, sempre visando a maior probabilidade de transmissão das características que tornam um organismo mais bem adaptado a um determinado meio. Até se pode aceitar esses mecanismos para os seres vivos, mas isso acaba trazendo problemas sérios quando falamos dos seres humanos.
O surgimento e evolução da espécie humana ainda possui lacunas importantes. Entretanto considera-se na comunidade científica que a espécie humana é uma como as outras demais, e que também passou pelo processo de evolução. Assim sendo, é pacífico considerar que também fomos vítimas de acasos, acidentes e manipulações do meio para que hoje sejamos a espécie que somos. Isso traz problemas sérios para nossa auto-imagem, pois nos desenvolvemos acreditando que somos especiais porque fomos criados por um ser inteligente. Admitir os processos evolutivos como constituidores de nossa estrutura física pode ser até aceitável, mas é difícil considerar que mesmo nossas habilidades mentais, produto de nosso funcionamento cerebral, também é um produto da evolução, porque isso nos destitui de um lugar onde gostamos de achar que estamos, no topo da criação.
Claro está que nenhuma outra espécie conhecida possui um grau de auto-consciência nem capacidade de raciocínio como a nossa, mas isso não significa necessariamente que somos assim graças a uma intervenção supra-natural ou que houve algo como um "projeto" que constituiu nossa espécie como nos apresentamos hoje. Se já é difícil considerar que não somos conscientes de muito do que ocorre em nossa estrutura mental, é difícil também considerar que só somos o que somos graças a um conjunto fortuito de eventos não relacionados entre si. Mas pode haver um benefício em raciocinar assim: nos tornamos mais humildes perante o que somos para nós mesmos, e as diferenças entre nossa vida e a dos outros seres vivos acabam minimizando. Assim podemos nos tornar mais responsáveis, não por causa de um desígnio divino, mas por puro e simples reconhecimento de que não somos mais do que nenhum outro ser.
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