O patrimônio cultural de um povo pode ser estimado pelo nível de educação. Mas tão ou mais importante que o nível de educação formal é o que realmente se aprendeu, pois é isso que permite o domínio de um determinado conhecimento, que realmente faz a diferença. Isso significa que, muito mais do que a escolaridade ou ter um diploma superior, é aquilo que uma pessoa realmente consegue fazer, o seu grau de domínio prático da área, que vai mostrar se ela é ou não competente.
E nesse mister o pensamento científico é uma grande ferramenta. Os progressos tecnológicos da humanidade somente ocorreram porque pessoas corajosas desafiaram e desafiam idéias pré-concebidas, oferecendo uma visão mais precisa sobre como o mundo funciona. Mas para se ter uma visão diferente das coisas, é necessário pensar, e aí começa um problema. Como professor, tenho trabalhado há um certo tempo com turmas em diferentes níveis do ensino superior, e observo, infelizmente, que a maioria dos alunos possui carências severas de conhecimento científico. Poucos são os que gostam, entendem e estudam ciência, mesmo que não digam respeito diretamente ao seu curso superior. Isso limita grandemente os recursos intelectuais e a capacidade de inovação em uma área do conhecimento, pois a tendência é que se restrinjam as leituras numa área do conhecimento, fazendo com que as demais sejam mesmo desprezadas.
Nesse contexto, cabe muitas vezes ao professor do ensino superior resgatar, ou criar, no aluno um sentimento de curiosidade sobre o conhecimento. Além do conhecimento técnico necessário a qualquer profissão, é fundamental que o aluno saiba pensar as dificuldades e os desafios que serão impostos pelo contexto do trabalho.
Esse é um desafio pedagógico gigantesco para o professor, pois esta tarefa será bem executada se, além do conhecimento em profundidade em sua área, ele tiver também disponibilidade e conhecimento em áreas próximas. Essa relação de áreas de conhecimento se constitui no elemento mínimo indispensável para um ensino multidisciplinar, que é um dos elementos que vai diferenciar um profissional competente de um profissional mediano.
Um comentário:
Concordo com cada palavra. É triste ver como as pessoas são condicionadas a se limitarem em apenas um assunto. Já me perguntaram tantas vezes coisas como "ei, você estuda psicologia... o que está fazendo com um livro de filosofia/artes/biologia?"
Eu confesso que às vezes já me peguei com um pensamento desse tipo.
Acredito que é importantíssimo mudar esse quadro, para que todos vejam a importância de pensar de uma forma sistêmica, aprendendo a relacionar assuntos que se complementam.
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