Pós-graduações IMED 2013

domingo, 1 de novembro de 2009

Limites dos testes psicológicos

Uma das principais áreas de investimento e estudos da psicologia é a da testagem psicológica. Existem no mundo centenas de milhares de testes, que avaliam várias características e habilidades, tais como memória, atenção, raciocínio lógico e aspectos afetivos. Entretanto, apesar de serem ferramentas importantes, os testes psicológicos não são instrumentos inquestionáveis, por várias razões.


Em primeiro lugar, um teste está baseado em uma teoria. Se o objetivo é mensurar a capacidade para recordar informações, é necessário que exista uma teoria sobre como a memória funciona para depois podermos avaliar suas propriedades, e assim por diante para as demais funções mentais. Entretanto, a psicologia dispõe de inúmeras teorias sobre as funções mentais e o comportamento humano. Se cada uma destas teorias propuser a construção de testes para avaliar o comportamento, teremos no fim um número significativo de testes. O problema está em que, quando um teste é construído a partir de uma teoria, fica bastante difícil que um profissional orientado por outra teoria possa utilizar estes dados, pois a explicação sobre o que está sendo estudado é via de regra bastante diferente. Portanto, cada teoria psicológica pode ter reforçada sua posição como uma "ilha", relativamente isolada no oceano do estudo do comportamento.


Outra questão, agora intra-teórica, consiste no problema da interpretação do teste. Uma boa interpretação só terá sentido se for feita dentro da teoria onde o teste foi construído, como já mencionamos acima. Isso pode se constituir eventualmente numa fragilidade, pois são muito variáveis as possibilidades de interpretação, e é quase regra que, dentro de uma mesma teoria, haja muitas vertentes e modelos (a psicanálise é o caso clássico). Portanto, mesmo que um teste seja construído por um referencial teórico, as variações intra-teoria devem ser consideradas na interpretação.


Cada teste possui uma metodologia de construção. Os testes projetivos visam avaliar características subjetivas dos avaliados, tais como dinâmicas intrapsíquicas e mecanismos de defesa. Os testes psicométricos possuem uma estruturação diferenciada, orientada pelas ferramentas estatísticas. Para estes, existe um rigor estatístico que precisa ser observado. Por exemplo, um teste psicométrico está baseado nas respostas de um número significativamente grande de pessoas, pois isso aumenta o seu poder de avaliação. Precisa ser válido também: um teste de atenção deve realmente mensurar a atenção, e não outra coisa, senão não será útil (e aqui uma boa teoria faz toda a diferença). Deve ser fidedigno, ou seja, precisa ser estável, capaz de continuar mensurando uma característica por um tempo considerável, e ser preciso, que se reflete na capacidade de dar um "valor" adequado àquilo que está sendo medido. Desta forma, quando o teste for aplicado numa pessoa, suas respostas serão comparadas com as outras que já foram emitidas a ele e servem como referência. Para regulamentar e fiscalizar a qualidade dos testes, o Conselho Federal de Psicologia desenvolveu o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), que avaliou vários testes disponíveis no Brasil e possui uma listagem daqueles que são considerados favoráveis para aplicação.


Mesmo que um teste seja bem construído e baseado numa teoria consistente, de nada adiantará se a pessoa que o aplicar não tiver o treinamento adequado. Um teste não pode ser aplicado de qualquer forma em qualquer situação: o desempenho de uma pessoa avaliada por um teste de atenção será certamente prejudicada se as situações ambientais não forem favoráveis (por exemplo, se houver muitos ruídos na sala, movimentação de pessoas, etc.). Assim, um bom treinamento do avaliador é fundamental para a qualidade da realização da testagem.


Finalmente, um teste somente não é capaz de avaliar vários aspectos de uma pessoa. Não tem sentido nenhum aplicar somente um teste numa pessoa e ter a pretensão de que isso diga "tudo" sobre ela. Os testes existem para avaliar habilidades e características específicas, pois um teste de atenção nada dirá sobre a vida afetiva de uma pessoa ou suas habilidades interpessoais. Fazer este tipo de interpolação é totalmente inadequado.


Apesar destas observações, os testes psicológicos se constituem numa ferramenta fundamental para o trabalho do psicólogo. Como instrumentos construídas pelo homem, possuem limitações. Mas desde que estas limitações sejam conhecidas e controladas pelos profissionais, eles continuarão sendo bastante eficazes e capazes de traduzir características e motivações do comportamento humano.

2 comentários:

henk van der luit disse...

A psycological test can tell something about the quality of the "processor"
I think it is important how the owner uses the processor under certain circumstances.
If the ownner of less superior brain is sufficient creative he obtain the same results as the owner of a "better brain" who is lazy.

Éllen disse...

Muito boaa sua publicação, ajudou muito na minha pesquisa sobre validação dos testes... Seu modo de expressar é inteligente, porém fácil de entender. Obrigada!