A psicanálise nasceu dos esforços de Freud para compreender um transtorno chamado de histeria. Abandonando a hipnose, precisou criar outro método de tratamento e investigação que a substituísse de forma satisfatória. Formulou o princípio da associação livre, e como desdobramento deste, o da transferência. Analisou os sonhos dos pacientes, coisas que antes eram consideradas uma espécie de "lixo" psíquico, e criou uma nova disciplina, que chamou de psicanálise.
A psicologia acadêmica tinha outros propósitos. Preocupada em analisar o comportamento humano pelos métodos das ciências naturais (observação e experimentação controlados), amadureceu como ciência graças às contribuições de Skinner no século XX. O behaviorismo influenciou, e influencia ainda, a educação, e propõe que são os elementos ambientais aqueles que modificam o comportamento.
Freud e Skinner: dois gigantes. Um enfatizando a dimensão pessoal, intrapsíquica, e o outro, o ambiente. Cada um de um lado de um precipício. Seus seguidores, mais talvez do que eles próprios, se ocuparam mais em garantir que esse fosso continuasse como estava. Seria possível, ou desejável, encurtar essa distância? A quem seria bom que isso acontecesse?
Os avanços na neurociência e o nascimento da psicologia cognitiva podem criar as pontes necessárias para aproximar estas bordas. Embora muito ainda reste por ser feito, alguns esforços incipientes estão mostrando que a divisão exterior-interior é arbitrária, conceitual, e pode tanto ser mantida como pode ser eliminada. Não é suficiente uma teoria que seja "exclusivamente" clínica, nem "exclusivamente" teórica. Enquanto se pensar assim, sem a construção de pontes, os maiores prejudicados são aqueles que deveriam ser os beneficiados.
5 comentários:
Certamente a tua tese vai ser uma parte dessa ponte! A tua parte tu já estás fazendo para ajudar a aproximar estas bordas. É isso aí!!!!
Vinícius,
Finalmente pude conhecer seu trabalho aqui no blog. Parabéns! Temáticas apropriadas, de fácil compreensão, o que comprova sua competência não só como psicólogo, pesquisador, coordenador, mas também como professor.
Indubitavelmente, "essa ponte" da qual você fala em "A psicologia 'de dentro' e 'de fora'" deve ser construída não só na ligação teoria/prática, mas entre as próprias teorias, cada uma com sua grandeza.
Sucesso!
Gostei bastante desse texto. Conseguiu expressar algo que venho sentido desde que o senhor nos apresentou aquela "árvore" do pensamento psicológico no início das aulas, que é a vontade de encontrar um ponto onde os galhos finalmente se encontrassem. Utópico ou não, espero que esse dia chegue (e que eu consiga contribuir pelo menos um pouquinho para isso! hehe).
O texto é interessante, mas gostaria de ressaltar que ele passa a idéia de que Skinner percebia apenas o ambiente externo quando na verdade ambiente em sua teoria é também o que está "sob a pele". A isto ele deu o nome de eventos privados, aqueles que apenas o próprio sujeito tem consciência, para diferenciar dos eventos públicos, que como o nome deixa claro, está evidente para todos. Sumariando, não é verdade que Skinner apenas enfatiza o ambiente (como algo externo ao sujeito).
Postar um comentário