Alguns estudos em psicologia evolucionista têm apontado que a fé em algo transcendente foi um elemento que ajudou a gerar vantagens evolutivas e, por conseqüência, refinar a complexidade da cultura humana. E isso tem razão de ser se considerarmos as necessidades básicas dos seres humanos, sendo uma delas a necessidade de amparo.
Biologicamente, os seres humanos possuem uma fragilidade constitucional desde a infância, de forma que necessitam receber investimentos de várias espécies: tempo, energia, alimento e afeto. Ou seja, nossa espécie depende primordialmente de outros que possuem habilidades que os membros imaturos não têm. Receber o amparo de um adulto que possui um "poder" dá tranqüilidade e reduz os efeitos do estresse sobre o organismo.
Entretanto, os adultos também possuem uma cota de desamparo, vinda de situações que não são previstas, como mudanças climáticas, doenças e o ataque de outros grupos humanos. Mas quem os iria socorrer? Já são adultos, sendo teoricamente poderosos. Neste momento, os mecanismos de desamparo são ativados, e surge um terreno fértil para o aparecimento dos seres superiores, mais poderosos que os adultos. Se as crianças buscam no adulto o amparo que falta, estes buscam em forças não visíveis os meios para superar as dificuldades.
Agregar na cultura nascente um agente sobrenatural poderoso dá força à comunidade. Mais força ainda tem o agrupamento que se auto-perceber como "escolhido" por essa força superior para ir adiante, sendo seus filhos prediletos em detrimento dos demais seres. Mas este desamparo constitucional, mesmo que baseado em necessidades não racionais, deve continuar sendo preenchido pela crença em algo invisível? Ou poderia a humanidade buscar bases mais racionais e objetivas para preencher esta lacuna?
5 comentários:
Como vai Vinícius?
Eu também acredito que a ética existe sem a religião. Não importa se é católico, judeu, muçulmano, agnóstico ou ateu para ser ético. O problema é que muita gente coloca a "capa da religião" para serem éticos e melhores que os outros.
E sobre uma comunidade de discussão científica, com certeza terei muito prazer em participar. Meu e-mail: doctorperplexorum@hotmail.com
Att,
Frank
Oi,
muito bem escrito esse texto especialmente a última parte. Agora vou ter que ler sobre a psicologia evolucionista. Sobre fé tem tanto a se dizer, eu como observo as pessoas que dizem ter fé em Deus vejo que essa fé pode ser muito perigosa. Por exemplo, fulano era traficante e agora mudou de vida. Só que esse fulano era tão marcado emocionalmente por abuso na infância, fome e por tudo que passou no tráfico que acaba tomando posse de uma fé em um Deus que não existe, que vai matar os seus inimigos ou começa achar que é um instrumento de Deus para fazer justiça. Eu sei de muitos casos assim. Acreditar no que é invisível pode ser perigoso porque sendo invisível pode-se dar a esse algo a forma e força que quisermos, eu me questiono muito sobre isso. Acho que foi essa curiosidade que me levou até a religião.
Júlia.
“Ou poderia a humanidade buscar bases mais racionais e objetivas para preencher esta lacuna?”
Bases racionais, muita expectativa foi depositada em torno da razão e da objetividade, hoje percebemos que a racionalidade tb induz ao erro, a ciência positivista toda se baseou nisso (deu fé nisso) e está em declínio. Na verdade o modo de um “preencher essa lacuna” não é melhor do que de outro, no final estamos no mesmo barco e dizer de um modo mais racional não me parece grande vantagem... Os crentes acham que são melhores, os ateus acham que são melhores ... Os crentes dizem que ateus (e ai incluem os agnósticos) não tem valores morais, os ateus dizem que os crentes são fundamentalistas irracionais...
bla, bla, bla, bla...
Mas, antes que seja mal interpretada, claro que não acho que seja possível fazer ciência sem objetividade assim como não é não é possível ser completamente objetivo, racional, imparcial. Afinal a ciência ainda é feita por homens não é?
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