Pós-graduações IMED 2013

domingo, 29 de março de 2009

Os dois cérebros

É impressionante o relato da neurocientista norte-americana Jill Bolte Taylor sobre a experiência de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Ela acordou um dia e percebeu que estava tendo um derrame, e esta experiência proporcionou-lhe uma visão bem distinta sobre o funcionamento do cérebro e a relação entre os hemisférios esquerdo e direito.

De forma sucinta, o hemisfério esquerdo processa as informações relacionadas com os componentes racionais-cognitivos, enquanto que o hemisfério direito realiza a integração de outros estímulos, não-racionais. A integração entre estas duas partes permite que nós nos relacionemos com o mundo como fazemos.

Entretanto, a experiência vivida por Taylor mostra como seria se nossa parte esquerda, racional, fosse "desligada" momentaneamente. O aspecto racional da análise das coisas seria fortemente suprimido, e o lado "sentimental" tomaria predominância na forma como percebemos e nos relacionamos o mundo.

Pode-se dizer que a descrição da experiência se aproxima de uma experiência mística; são relatados sentimentos de perda do "eu" e uma sensação de unidade com o Universo. Portanto, é interessante questionar se a predominância do funcionamento do hemisfério direito poderia favorecer as experiências religiosas.

O conteúdo da experiência de Taylor pode ser visto aqui.

domingo, 1 de março de 2009

A simplicidade do criacionismo

É interessante observar como o pensamento científico parece, talvez na maior parte das vezes, ir na contramão do raciocínio humano. Um exemplo disso é o fato de que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário. Bem, nossos sentidos nos dizem que é o Sol que gira em torno da Terra, afinal, estamos "parados", e fica difícil de imaginar que o que ocorre na verdade seja o contrário. Isso foi uma verdade por muito tempo, e foi a duras penas que o geocentrismo caiu.

O processo evolutivo dotou nosso cérebro com habilidades paradoxais: ao mesmo tempo que somos curiosos, parecemos preferir as respostas mais simples, mesmo que sejam imprecisas, porque isso gera menos ansiedade. Quando alguém está passando por algum problema, geralmente pensa: "O que fiz de errado para estar sofrendo assim?", e como tentativa de responder a essa questão, lança mão de uma resposta única: "Estou mal porque fiz isso", ou "É por culpa de Fulano". Uma resposta, mesmo que não tão precisa, reduz a ansiedade que certamente surge quando temos que lidar com várias alternativas, e corremos o risco de escolher a solução errada. E ansiedade excessiva reduz as chances de sobrevivência.

O criacionismo faz isso. Com a intenção de querer explicar a complexidade da vida e do universo, acaba "jogando" para a suposta existência de um ser superior a explicação, simples, de que este ser criou tudo. Esse mecanismo gera tranquilidade, mas no fim não explica muita coisa. Além disso, tem o inconveniente de "misturar" aspectos científicos com a dimensão moral. Em vez de clarear a discussão, este tipo de vínculo, realizado desta forma, torna o problema mais espinhoso, porque toca na nossa necessidade primata de amparo (vide A necessidade da fé).