*Este artigo foi publicado no jornal O Rodinho, da IMED. Aqui reproduzo na íntegra o texto, que pode ser conferido também aqui.
Amigos, é com muita alegria que aceitei o convite d'O Rodinho para escrever uma coluna. E como não poderia deixar de ser, vou escrever sobre um tema que acho bem importante e ao mesmo tempo pouco conhecido: o que é a ciência.
O título desse artigo foi tomado emprestado de um livro escrito por Alan Chalmers, pela editora Brasiliense. Neste livro, o autor tenta responder a esta tão importante pergunta de uma forma clara e divertida, afinal a ciência não é uma coisa "chata", só para os iniciados; ao menos, não precisa ser desta forma. E essa é uma das primeiras visões que a gente tem da ciência, que ela é algo obscuro, cheia de fórmulas complicadas e incompreensíveis. É claro que a ciência tem uma linguagem própria, porque se ela busca compreender o mundo de uma forma mais clara e precisa, deve desenvolver mecanismos que possam atingir estes objetivos. Então não são todas as pessoas que compreendem a ciência, pois muitos não tem interesse em conhecer esta linguagem ou então, o que é pior, tiveram uma péssima primeira impressão da ciência, e querem estar longe dela.
Escrevi recentemente um artigo onde eu comparava a curiosidade da criança à do cientista. Os dois têm isso em comum, mas é claro que a curiosidade do cientista é mais refinada, porque para que ele possa responder as perguntas propostas, as questões não podem ser feitas de qualquer maneira. Também o cientista utiliza-se de um método específico para a ciência, que é chamado de método científico. Além de ser uma disciplina que ensina o aluno a "como fazer trabalhos acadêmicos", a metodologia científica se propõe a organizar as possibilidades de produção do conhecimento, para que aquilo que é investigado possa ser mais claro para os colegas cientistas. Mesmo porque o conhecimento científico é diferente do conhecimento da vida real (o senso comum), do conhecimento filosófico e do conhecimento religioso. A ciência busca ser clara em suas respostas, como dissemos, pois é essa clareza que permite que ela possa ser um conhecimento mais preciso.
Para esta precisão, as ciências utilizam via de regra a linguagem matemática, e aqui está uma coisa que faz com que os estudiosos das ciências humanas se arrepiem. Geralmente os pesquisadores das ciências humanas não gostam da linguagem matemática por várias razões: ora porque entendem que a matemática não pode explicar tudo, ora porque não tiveram treinamento para compreender o que significa uma informação matemática, ora porque não gostam mesmo de matemática. Muitas vezes essa crítica vira repulsa, que pode ser uma repulsa injustificada. Pode-se criar "pré-conceitos" contra a matematização das ciências sem uma base coerente para discutir esse comportamento.
Uma das críticas a isso é que a linguagem matemática seria "infalível e precisa". Não é isso o que acontece. Uma das ferramentas mais utilizadas nas pesquisas em ciências humanas é a estatística, e ela não lida com a precisão, lida com probabilidades. Ou seja, ela não diz: "As pessoas que perderam alguém importante fatalmente terão depressão", mas sim "É mais provável que alguém que tenha perdido alguém importante tenha depressão". Qual a diferença? toda. Pois no primeiro caso se está assinando uma sentença, enquanto que no segundo a informação dá uma condição de alta probabilidade, mas não de certeza. Portanto, atenção quando você ler uma pesquisa: ela não é definitiva. Pois se a pesquisa fosse definitiva, não haveria avanço no conhecimento científico (é por isso que a ciência vai se aprimorando, porque ela revê seus conceitos e conhecimentos).
Deveríamos ter o primeiro contato mais sólido com a ciência no ensino médio, mas também não é isso o que vemos como regra. Questionando as várias turmas com as quais dou aula, sempre tenho o costume de perguntar: "Vocês tiveram aulas em laboratório de química, física e biologia no ensino médio?" Cerca de 85 a 90 por cento dizem que não tiveram; e os poucos felizardos que tiveram, me dizem que foram uma ou duas vezes nos três anos, e ficaram assistindo, ou seja, não realizaram um experimento do início ao fim. Então, pergunto: como desejar que a ciência brasileira se destaque no mundo? Temos, sem dúvida, ótimos cientistas, mas estes são verdadeiros heróis, pois tudo foi contra sua vocação. Então, acaba que o primeiro contato com a ciência ocorre no ensino superior...
Acho muito importante que os alunos do ensino superior discutam e, principalmente, conheçam a ciência. É possível que este seja o último momento onde terão a possibilidade de discutir esse tema, pois depois que se formarem (exceção aos que quiserem a carreira acadêmica), provavelmente não terão mais esta oportunidade. Então, sejam críticos, perguntem aos seus professores qual é a base dos seus conhecimentos, e como este conhecimento foi produzido, pois tão importante quanto uma boa bagagem de conhecimentos técnicos, é fundamental ter um espírito crítico. E isso a ciência tem de sobra.
2 comentários:
olá, tb gosto de Psicologia cognitiva muito bom seu blog!
ad vc no meu blog.
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